Uma das melhores novelas de Silvio de Abreu, Torre de Babel é um deleite para os apaixonados por telenovelas. A produção está disponível no GloboPlay desde agosto de 2020.
Produzida em 1998, a problemática novela de Abreu obteve ótimos índices de audiência no Viva quando foi exibida em 2017 comprovando que a produção deixou uma boa memória no público. Na época de sua exibição, o folhetim teve uma rejeição dos telespectadores que foi contornada pelo novelista transformando a obra em um grande sucesso, com direito a várias cenas marcantes.
Silvio teve muita dor de cabeça para colocar Torre de Babel no eixo. Inicialmente, a produção foi voltada exclusivamente para a vingança de Clementino, o papel mais complexo e desafiador da carreira do gigantesco ator Tony Ramos. O protagonista assassinou a esposa com golpes de pá, foi preso por 20 anos, e saiu da cadeia disposto e destruir a vida do poderoso César (Tarcísio Meira), que testemunhou o assassinato, sendo o maior ‘responsável’ pela sua condenação.
A explosão do Tropical Tower Shopping foi a sequência mais marcante da trama e entrou para a história da teledramaturgia, até porque os efeitos especiais ficaram primorosos, principalmente considerando toda a infraestrutura de um produto da década de 90 que era bem limitado.
A tragédia acabou ainda servindo de instrumento de ‘eliminação’ de perfis que foram rejeitados pelo público, como o drogado Guilherme (Marcello Antony) e o casal lésbico Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) que foram limados da produção. Claro que o suspense não poderia ficar de fora de uma obra de Abreu e funcionou para a inserção de um clássico elemento de suspense: o “Quem matou”. No caso, foi o “Quem explodiu”.
A redenção de Clementino foi feito com extrema competência focando em todas as nuances daquele perfil tão complexo e rico dramaticamente. O amor construído entre ele e Clara (Maitê Proença) foi delicado e lindo de ser acompanhado, assim como a sua relação com a filha Shirley (Karina Barum).
O relacionamento conturbado dele com Sandrinha (Adriana Esteves) também primou pelos bons conflitos e o autor ainda optou por um revezamento de vilania. Isso porque no começo era o próprio Clementino que representava a figura de um sujeito agressivo e perigoso. Depois foi a vez de Sandrinha assumir o posto de peste da trama, destacando Adriana Esteves.
Cláudia Raia dominou a novela e sua atuação é digna de todos os elogios. Foi um de seus melhores trabalhos. As críticas feitas a ela na época foram injustas. A atriz soube imprimir um tom irônico e dissimulado na sua víbora conseguindo ainda mostrar todo o processo de descontrole emocional que a personagem foi desenvolvendo à medida que suas armações iam sendo descobertas por todos ao seu redor.
A sua rivalidade com Clementino também cresceu, assim como os seus embates com Celeste (Letícia Sabatella), perfil que entrou na trama pouco depois da explosão do Shopping e acabou ganhando ares de mocinha, principalmente quando se envolveu com Henrique. Os momentos de cumplicidade de Ângela com a empregada Luísa (saudosa Liana Durval em um papel de destaque) também merecem menção.
Valeu muito a pena acompanhar esse folhetim novamente no streaming.